E lá vai ela, gingando sem jeito pelas ruas da cidade,
exibindo o seu charme e pensando ser sem querer. Julgando estar protegida pelo
véu da sua falsa inocência, escondendo mil desejos e sonhos, como quem não sabe
o que quer e nunca soube…
É ela a “mulher dos mil amores”, que adora sentir-se desejada
e cobiçada, uma sedutora nada, um coração cheio de amor para dar mas que não
sabe amar. É ela a cruel dama de rosa, uma faca de dois gumes, uma flor com
espinhos, um verdadeiro vício.
Mas também é sofrida, a beleza deslumbrante que lhe veste a
silhueta e o semblante é para ela um pesadelo, um doce pesadelo que a assombra,
um fardo… As vezes, gostava de ser menos especial, mais comum e vulgar. Talvez
assim fosse mais feliz, talvez assim a menina linda e perfeita aprendesse a
amar, sem razão, amar simplesmente…
Ela é racional, até demais, generosa algumas vezes e até
piedosa, mas não pode negar o prazer que sente ao ver alguém lutar pelo seu
coração, mesmo quando sabe que o coitado trava batalhas inúteis, pois não se
sabe se ela tem coração. Houve momentos em que achou estar loucamente
apaixonada mas depois que o tempo passou, e já não sabia distinguir o que sentia
de “encanto, admiração ou tensão sexual”. Talvez até tenha sentido paixão mas
passou, porque tudo na vida passa, ou porque simplesmente deixou morrer, a
paixão e todos os outros sentimentos semelhantes que do seu peito brotaram. Não
se sabe... Pois tudo em si é ambíguo tão ambíguo que até ela própria se sente
estranha em si mesma, como se estivesse a habitar o corpo de outra pessoa, como
se não se reconhecesse em seus olhos, suas mãos, como se nada fizesse sentido…
E assim vive os seus dias… Confusa e perdida, vivendo os seus
“pseudo-amores”, um de cada vez ou todos ao mesmo tempo. Perdida, a cada dia
mais perdida!
Uns são como mestres, aprende com eles e torna-se mais
interessante e envolvente em suas abordagens para atrair aqueles que a veneram
e a consideram um génio, em todas as suas vertentes. Tudo o que ela diz ou faz
é digno de um sábio da antiguidade, uma Deusa do saber!
Outros são como uma muleta, os carinhosos e amigos impecáveis
e estendem a mão para ela e a confortam, sempre, sem hesitar…
Há ainda os românticos que a fazem sentir princesa e os
amantes que a tornam na essência da sensualidade e fazem vir ao de cima as suas
vontades mais íntimas e surpreendentes!
Porém, os que chamam a sua intenção verdadeiramente são os
misteriosos e pouco disponíveis para ela, aqueles que fazem jogos psicológicos
e fazem com que se sujeite a implorar por atenção, os que a fazem sofrer, ouvir
canções tristes e ler poemas de dor… Mesmo a esses não sei se ela um dia amou
mas, de certeza que o marcaram e muito… Talvez por terem sido um desafio ou por
terem olhado para ela como um ser humano normal, por terem decifrado os seus
defeitos e as suas fraquezas, sem nunca a tratarem de forma especial, sem nunca
caírem nas suas tácticas de sedução… Não se sabe também…
Há quem diga que estes souberam agir como homens de fibra mas
outros defendem ainda que foram covardes apesar de inteligentes, pois
aperceberam-se da sua beleza fatal e do seu encanto sedutor e tiveram medo.
Medo de não a conseguirem largar, medo de a amarem loucamente e por ela
sofrerem, medo de se entregarem. Se assim o fizeram, não se lhes pode tirar a
razão, fizeram-no por eles, pelo bem dos seus corações… Fugiram dela, sem nunca
olhar para trás… Deixaram-na sozinha e indignada, sem entender o que lhe faltou,
rejeitando-se a aceitar que tinha sido rejeitada…
Talvez nada a tenha faltado, talvez nada lhe falte, talvez
tenha tudo em demasia, muito brilho, muito saber, muita intensidade, muitos
valores, muito pudor, muita loucura, muitos desejos, muita fantasia, muito
amor… E talvez esse seja o seu maior defeito, que fardo!
Que lindo texto. Parabéns.
ResponderEliminarObrigada! Beijinhos!
EliminarEstá simpática a escrita. Vem da foto, parece.
ResponderEliminarObrigada Paulo! Grande abraço!
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