Não percam esta grande oportunidade de engrandecer a arte e a cultura angolana bem como enriquecer e de que
maneira o vosso intelecto! Estão todos convidados, não percam!
quinta-feira, 28 de março de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
" O que se passa afinal? "
Nunca fui muito boa a pregar sermões nem sou o melhor exemplo
de moralista que conheço. Porém, existem coisas que infelizmente acontecem a
minha volta e sou incapaz de simplesmente olhar e calar.
Talvez ninguém partilhe da minha opinião, talvez seja a única
com coragem e fúria suficiente para falar ou talvez até, esteja errada, mas
tenho estado a observar os recentes fenómenos sociais e as constantes e
assustadoras mudanças nos comportamentos das pessoas, em todo o mundo e
sobretudo em Angola ou mais concretamente em Luanda.
Não sei o que foi que nos aconteceu para nos tornarmos tão
carentes de atenção e sedentos de glória. Até nas coisas mais insignificantes e
superficiais, queremos ser de alguma forma superiores e importantes. Já nem
sabemos quem somos, o que é apropriado ou não, o que deve ou não deve ser, o
que é comum ou invulgar, o que é normal ou anormal. Se ainda não estamos a
viver um verdadeiro caos, acredito que estamos bem perto de fazê-lo. E o pico
de toda essa explosão de hipocrisia e mesquinhice é infelizmente uma ferramenta
aparentemente criada para “aproximar os distantes” mas que acabou por “afastar
os mais próximos”, aquilo que nós chamamos de redes sociais.
Não sou uma convencional louca que defende o fim da
globalização ou da internet mas apelo que aprendamos a fazer um melhor uso das
mesmas. Pois para além das desvantagens que todos conhecemos e que se têm
estado a evidenciar, também existem as vantagens que são muitas e vão mais além
do que as nossas mentes humanas podem imaginar.
Todos os dias quando entro para alguma rede social, fico
pasmada com tamanha baixaria e pobreza de personalidade e de alma esbanjadas em
publicações e comentários baseados em mentiras, ilusões, falta de identidade,
falta de opinião e uma gana irracional de superioridade. O que se passou
connosco afinal? Porquê que resolvemos ser todos especiais? Ou melhor porquê
que resolvemos condicionar o facto de sermos especiais ou não ao número de
gostos ou de comentários, feitos as nossas fotos ou estados?
Será que, finalmente, deixamos de valer pelo que somos e
passamos a valer ou “não valer” pelo que temos? Não posso crer! Será que já não
é possível voltamos a ser o povo simples e autêntico que um dia fomos? Será que
é assim tão difícil, aceitarmos quem somos? E nos impormos a certos padrões
ridículos, criados por pessoas ridículas que infelizmente nos ridicularizam,
tornando-nos cegos e incapazes de ceder a esses ciclos estúpidos de exclusão?
Quanto mais penso e observo o que se passa, sinto náuseas e
vergonha por fazer parte desta realidade triste. E sendo assim, não me isento
de culpa e igualmente me envergonha o facto de algumas vezes me ter sentido
inferior, por outras ter sido hipócrita e ter traído os meus ideais,
concordando com coisas ditas por fulanos e sicranos apenas por se tratar de
tais fulanos e sicranos. Ou ainda, as vezes em que deixei que o meu ego
inflamasse, com comentários ilusórios e por vezes, irónicos que me fizeram
sentir superior ou melhor, por vagos instantes…
Enfim, acredito que um dia nos iremos aperceber que existem
coisas muito mais importantes do que nos sentirmos importantes e talvez nesse
dia aprendamos a ser felizes por nós próprios, sem depender da opinião ou
atenção dos outros.
Talvez tudo isso não passe de uma utopia, talvez o meu desejo
não de igualdade mas sim de equilíbrio mental e emocional não passe de um
pensamento louco e descartável de uma mera mortal, de um ser comum, sem
expressão ou capacidade de influência. Contudo, prefiro continuar a sonhar ao
continuar a fazer parte de tal realidade promíscua.
Obs: Não precisam
concordar comigo, simplesmente por ter sido eu a escrever, sem mesmo terem lido
ou entendido o que escrevi. Se for esse o caso não precisam “gostar” do meu
texto e se por ventura a carapuça servir a alguns, desculpem-me e não entendam
a minha reflexão e tentativa de chamar-vos a razão como um julgamento ou uma
crítica destrutiva. Longe de mim!
Mira Clock
Aos 27 de Março de
2013
segunda-feira, 4 de março de 2013
Trecho do meu novo menino (livro) "Um Verdadeiro milagre de amor", espero que gostem... Beijinhos
Outra vez sentado no sofá, passando o milésimo serão
sozinho, olhando para o abstracto, em completo silêncio, lá estava Rafael em
seu mundo seguro e fadistioso. Seria aquela uma noite normal como as outras,
estariam os seus pensamentos a gozar da mesma calmaria que o seu corpo? Estaria
ele em paz com os seus instintos? Nada o denunciou durante a primeira hora que
ali esteve. Porém quando menos esperava, como se tivesse sido possuído por
alguma força superior, levantou-se e pegou na lista telefónica, desesperado por
encontrar o número de telefone de uma certa moradora da cidade de Luanda.
Contudo após longos trinta minutos de busca pelas páginas douradas não obteve
grande sucesso e desistiu, achando ridícula e de certo modo desesperadora a sua
atitude.
Determinado a esquecer aquele assunto, ligou a televisão
e procurou imediatamente por uma distração. Vagueiou lentamente por toda a
grelha de cais televisivos mas nenhum o deteve, tudo lhe parecia ser pouco
cativante ou interessante, estava inquieto e sabia bem o porquê. Não a
conseguia tirar da cabeça, por mais que tentasse continuava a vê-la nitidamente
em seus pensamentos e achava-se aflito por esse motivo. Nunca havia sentido
nada parecido, por mulher nunhuma. Não estava habituado a sensação e não
suportava o facto de não a poder controlar.
Quando menos esperava, levantou-se abruptamente,
caminhando até a porta, desejando sentir-se melhor fora de casa, como se aquela
situação não o pudesse acompanhar até a rua. Percorreu por vários quarteirões a
pé, procurando inconscientemente por traços dela em todos os rostos que
encontrou. Mesmo nos mais incompatíveis e menos semelhantes. Passado algum
tempo, deu por si, sentado outra vez, mas desta vez num banco de pedra na
Marginal de Luanda, ignorando a exuberância das luzes da Baía reflectidas sobre
o mar, o brilho mágico da lua e o encanto das estrelas para se concentrar no
vazio, de cara voltada para o chão, com as mãos nas bochechas, sustentando o
peso de sua cabeça. Anseiava desesperadamente por alguma resposta mas quanto
mais pensasse sobre o assunto mais encurralado se sentia.
Era Sexta-feira e sabia que só voltaria a falar com
ela na terça-feira que era o dia em que se previa que o reparo do carro ficasse
pronto. Normalmente era a recepccionista a informar aos proprietários para que
fossem levantar os veículos a determinada oficina mas desta vez queria ser ele
a fazé-lo, pois receiava que aquela fosse a última vez que teria oportunidade.
E o pior é que teria de passar o resto do fim-de-semana naquela angústia.
Manteve-se ali parado durante cerca de uma hora e depois sem se que lhe
restassem mais alternativas regressou a casa, refugiou-se num banho quente e
depois de quase duas horas debatendo-se em dúvidas e contradições, finalmente
conseguiu adormecer.
Na manhã seguinte levantou-se um pouco mais tarde do
que era costume mas ainda assim, para seu espanto, soube-lhe a pouco e desejava
ter ficado mais tempo na cama. Porém era dia de compras e apesar de um pouco
desorientado estava consciente de que precisava ir. Após ter esfregado os olhos
e esticado os braços, fez subir as perceanas do quarto para que os raios de sol
iluminassem e aquecessem. De seguida calçou uns chinelos de borracha, deambulou
até a casa de banho para escovar os dentes, fazer a barba e tomar rapidamente
um duche. Após se ter vestido casualmente, colocando a primeira t-shirt que
encontrara na cómoda conjulgando com as suas favoritas bermudas brancas, calçou
umas sandálias de cabedal e dirigiu-se a cozinha lentamente, arrastando os pés,
desejando loucamente beber uma chávena de café forte com leite e canela e comer
ovos mechidos com queijo e torradas.
Faltando pouco para as onze horas da manhã já estava
ele a caminho do super mercado, calmo e ilusoriamente animado pois
aparentemente não teria tempo para pensar nela visto que teria um dia agitado.
Portanto, mal podia ele prever o tamanho da agitação que o resto do dia o
reservava...
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