sábado, 13 de outubro de 2012

"Cartas a Um Ex Amor"


Na noite passada quando cheguei a casa, após ter terminado o expediente na redacção, ouvi a Paula aos prantos!
Podes imaginar o quão surpresa fiquei a princípio, perguntando-me se não estaria a ter alucinações, ou se talvez, ela estivesse a tentar pregar-me alguma partida. O que não seria de espantar, pois bem sabes, que ideias loucas, ela tem de sobra.

Mas após me ter aproximado da sala de estar, onde ela se encontrava sentada no sofá, de pernas flectidas e as mãos agarradas aos joelhos apercebi-me que era a sério, o que me levou a perguntar imediatamente o que se passava e a oferecer a minha solidariedade.

Nunca a tinha visto naquele estado, a chorar como uma criança que se se perdeu. “Faz-me lembrar de mim mesma, há algum tempo atrás, quando perdi o meu amor e nunca mais me encontrei”. Pensei dentro mim.
Enquanto Paula se preparava para me contar o motivo da sua angústia.

E começou desculpando-se dizendo que não me queria assustar. Porém não aguentava mais segurar as lágrimas e quando deu por si já não conseguia parar, nem levantar-se do sofá, como se aquele pequeno canto da sala fosse o lugar mais seguro do planeta.

Notei aflição em sua voz, como que se estivesse desesperada por me fazer entender o quanto estava transtornada. E nesse instante peguei as suas mãos trémulas e agarrei-as com firmeza, lembrando-a de que podia contar comigo.
Passadas duas horas, já não me lembrava daquela mulher activa e despreocupada que conheci a 8 meses trás no Jornal e que ao fim de 5 semanas de convívio ofereceu-me o seu teto e a sua amizade sem qualquer exitação.
Durante todo o seu discurso, fiquei calada, ouvi-a do princípio ao fim sem conseguir balbuciar uma única palavra, alternando momentos de petrificação e revolta com instantes de consternação e clemência.

Destruí a minha vida por um falso amor e por causa deste perdi outro muito maior!
Tudo aconteceu quando descobri que estava grávida do Igor, a dor, o vazio, o desespero, a sucessão de erros imperdoáveis, o fim!

Eu tinha 26 anos quando o conheci, numa reportagem que fui fazer ao tribunal provincial de Luanda, ele era um dos procuradores adjuntos de um caso polêmico sobre um político, que estava a baila naquela altura, sobre o qual não vale a pena falar agora.

Não foi amor a primeira vista, mas após alguns encontros casuais e outros combinados, já não podia imaginar a minha vida sem ele. Ele era um senhor conseituado de 42 anos e eu uma simples rapariga do interior do país que havia chegado a cidade há poucos meses atrás e que ainda se sentia pedida e confusa, tentando integrar-se sem muito sucesso nos grupos de trabalho já montados no jornal.

Não tinha mais ninguém, estava completamente sozinha quando o conheci, toda a minha família havia ficado em Cabinda, os meus pais e os meus dois irmãos mais velhos fizeram tudo o que puderam para me mandarem a Luanda, depositaram todas as suas esperanças em mim e nos meus sonhos. E eu os decepcionei!

Amei o Miguel Augusto com todas as minhas forças e agarrei-me a ele como se fosse a única coisa que me permitisse respirar. Era o meu porto seguro, nada nem ninguém me fazia mais feliz.
Depois que começamos a andar, mudei completamente, o meu visual, a minha atitude, o meu olhar, sentia-me cada vez mais confiante e isso ajudou-me muito no jornal, rapidamente tornei-me efectiva e fui promovida.

Ele dava-me vida! Fazia tudo com paixão se pensasse nele. Quando me sentisse cansada ele dizia-me tudo o que precisava ouvir para continuar. Pese embora não fosse tão encantador ou atraente, era meu, dava-me essa certeza!
Quando fiz 27 anos ofereceu-me este apartamento e achei que fosse um indício de que queria casar comigo, mas logo percebi que queria apenas privacidade. Um lugar para estar comigo sempre que lhe apetecesse e sem ter que se explicar a ninguém.

Devia ter desconfiado a partir daquele momento, eu sei, tal como quando que começou a passar menos noites do meu lado e a rejeitar-se a sair para jantar ou a receber telefonemas a hora do almoço. Mas ele era tão bom com as palavras e eu estava tão enfeitiçada que por mais que tudo aquilo parecesse estranho limitava-me a entender e a amá-lo cada vez mais.

Até que um dia, depois de ter passado horas a pensar no que iria fazer, chamei-o para conversar e contei que estava grávida!

Ele manteve a calma e disse que ia tudo ficar bem! Iludi-me ao pensar que finalmente celaríamos o nosso compromisso e formaríamos uma família…
Mas ele continuou, dizendo que não podíamos ter um filho, nem naquela altura, nem nunca e que eu já devia ter calculado que um homem na idade dele e com o estatuto que tinha não podia ser solteiro ou amar uma rapariga como eu.

Havia um certo teor de verdade e frieza em suas palavras o que fez com que me sentisse um nada de mulher! Como é que pude ser tão estúpida e ingénua?

Depois de o ter ouvido dizer uma sucessão de disparates acompanhados de crueldade e covardia, pedi-o que saísse e que nunca mais me procurasse. E ele cumpriu, sem nunca ter olhado para trás!

Após aquele episódio os meus dias foram um verdadeiro inferno e nunca mais voltei a ser aquela rapariga! Odiei o meu próprio filho, durante os nove meses que o carreguei no ventre, não fui a nenhuma consulta, não escolhi um nome, nem comprei roupinhas de bebé, tão pouco quis saber o sexo e confesso que tentei desfazer-me dele numa clínica de abortos mas por algum motivo não fui capaz, nunca quis ter essa lembrança mas quem me dera que o tivesse feito…

Saía de casa apenas para ir ao Jornal e escondi a barriga até quando pude, depois solicitei a licença de maternidade e mais ninguém soube de mim.
Achavam que tinha ido a Cabinda buscar apoio dos meus pais mas também nunca tentaram saber como eu estava, afinal de contas não tinha feito verdadeiros amigos naquele lugar que era apenas o meu local de trabalho.

Entretanto ao contrário do que eles pensavam, os meus pobres pais não sabiam de nada, não consegui dizer a verdade a ninguém, até que um dos meus irmãos, preocupado com a minha ausência veio visitar-me sem avisar e descobriu o que se passava.

Simplesmente não consegui, não encontrei as palavras certas para contar a eles que havia destruído tudo o que tinham idealizado para mim e que estava grávida de um homem casado que não queria saber de mim nem do meu filho ou que corria o risco de perder o meu cargo no Jornal. Expliquei-me. Implorando o seu silêncio.

Guardou segredo durante algum tempo, pois, também não sabia como informar os senhores nossos pais protectores e excessivamente conservadores a verdade.

Contudo, foi obrigado a fazé-lo. Quando decorridos 3 meses do nascimento do seu afilhado ao qual atribuiu o nome de Igor, veio visitar-nos e soube o quanto estava desequilibrada, notavelmente doente, deprimida, rodeada de bebida por todos os lados, magra e pálida como uma nuvem.
A casa estava uma desgraça, empoeirada, com visíveis teias de aranhas nos cantos das paredes e com um cheiro a abafado que tresandava, como se não tivesse sido aberta a meses.

O bebé estava tão desidratado e desnutrido que o meu irmão Massochi apressou-se em levar-nos ao hospital e depois de ter ouvido o triste diagnóstico informou-me que iria contar tudo a nossa família de uma vez por todas. Ligou para os meus pais e convocou uma reunião, fazendo com que todos se deslocassem até Luanda no dia segunte.
Ainda me lembro do rosto abatido do meu pai e da expressão carregada de ódio da minha mãe quando souberam que eu estava infectava pelo vírus da Sida, uma doença incurável e repugnante que por causa da minha negligência foi transmitida ao meu filho.

Passados alguns dias decidiram que me iriam tirar a criança e levar a Cabinda alegando que eu não tinha quaisquer condições para criá-lo.
Senti raiva e nojo de mim, todos os dias, desde o instante em que ouvi aquelas malditas palaras do médico até este preciso momento e assim me sentirei enquanto existir!

Só descobri que o amava depois de o terem arrancado dos meus braços. Tentei lutar por ele e exigi que mo devolvessem. Mas não tinha forças suficientes e perdi! Depois de alguns ataques de nervos e discussões acesas com a minha família, não houve outra solução para os meus pais senão intentarem uma acção de inibição de autoridade paternal contra mim no Tribunal de família e tendo em conta o estado em que me encontrava não lhes foi difícil vencer.

Já se passaram 5 anos e nunca mais o tive em meus braços desde aquela data.
O meu irmão continua a ajudar-me mandando-me fotografias e ligando sempre que pode para me contar novidades sobre o meu menino. Hoje soube que ele ganhou um troféu num concurso de soletrar no Jardim-de-infância. Fiquei muito orgulhosa mas depois seguiu-se o latejar de uma dor que saiu do meu peito e se propagou pelo corpo todo e não consegui parar de chorar! Quer dizer, que tipo de mãe sou eu? “

Ainda estou atormentada com tudo o que ouvi, agora consigo perceber tudo muito melhor. Como por exemplo o porquê que a Paula me acolheu quando entrei para o Jornal. Pois, tal como ela eu era uma rapariga provinciana praticamente sozinha na cidade e que provavelmente passaria pelas mesmas vicissitudes que ela naquela altura. E o porquê dos seus sumissos e telefonemas tardios.
Coitada!
Nem posso imaginar o peso da culpa que suporta nos ombros e o tamanho da dor que carrega no peito. Meu Deus! E eu que pensei que dor foi o que senti quando te perdi!
A minha mãe tem razão! Quando pensamos que sofremos, existe sempre alguém que esteja a passar por pior!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A vida é como um leve sopro que se esvai ao vento. 
É instável como areia fina que nos escapa entre os dedos e ao mesmo tempo é simples e bela como uma flor do campo... 
Por isso, cada minuto que passamos ao lado das pessoas que gostamos devem ser aproveitados ao máximo e vividos loucamente para que um dia restem boas lembranças no lugar da dor da sua ausência...

Hoje acenaste para os teus e partiste
Partiste para um sono profundo
De olhos vendados
Deixaste a dor e o vazio no seio dos que te amam

Pás de areia afundaram-te em terra
e como uma sementezinha pronta a brotar
lágrimas te vão regar

Até que um dia desabroches em nossas memórias
Apenas como uma lembrança
Uma linda lembrança

Pois a tua alma já se foi
Partiu para uma viagem eterna
A ti foi atribuída uma lembrança missão celestial
Tornaste-te um Anjo

Jorge o "Anjo das flores"
Teu espírito jovem viverá sempre entre nós
Soprando ventos de prosperidade e Bonança
Trazendo conforto aos nossos corações

Porém não agora
Não no nosso tempo
E sim no tempo do mundo em que vives agora

Secarás as nossas lágrimas
Estarás em cada sorriso
Serás o equilíbrio que vigorará em cada aflição
Serás o bem que confrontará o mal

Por agora só nos resta dizer
Adeus!

Adeus Jorge!
Que a tua alma descanse em paz!
Amém!

"Em memória de todos aqueles que deste mundo já se foram em especial ao amigo Jorge V. Cruz, que a terra lhe seja leve!
Com carinho e consternação."