quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

" Um mambo que se chama Angola "



Sempre quis escrever este texto. 
Tinha-o guardado na memória, perdido em pequenos extractos, idealizados pela minha mente. Porém, decidi montá-lo e trazé-lo cá para fora num dia, não tão belo, em que eu ia contrariada a deambular por certa rua da cidade capital, debaixo de um sol ardente e, ouvi por acaso partes de uma conversa aparentemente trivial, tida por um grupo de estudantes uniformizados com batas brancas, cujos gestos e expressões indicaram-me que se tratava de um tema que os interessava e era de certa forma importante para eles.
Enfim, dentre todos os murmúrios que ouvi, chamou-me atenção uma frase simples mas absolutamente completa que me levou a dar vida a esta modesta abordagem sobre um país cujas palavras por mais eruditas que sejam serão sempre insuficientes para o descrever. 
E a frase era a seguinte: 
" Angola é um mambo que cuia bué ya! "
Foi automático. Mal os meus ouvidos captaram aquele som e o meu cérebro processou aquela simples informação, eu soube imediatamente, que o devia escrever.

Mas pensei para dentro de mim. como começar?  

Que Angola é um país grande e estupidamente belo? Sabemos isso desde a quarta classe. Que temos uma terra abençoada por uma imensidão de recursos? É música para os nossos ouvidos. Que fomos colonizados e vivemos três décadas de guerra civil por causa destes tais recursos? Contem-nos alguma novidade. 

Talvez esteja enganada, mas tenho a impressão de que sempre que se fala de Angola, fala-se no mesmo contexto, caindo-se sempre nos mesmos clichés. 

Há muito mais para se dizer sobre a banda. Epa não nos podemos esquecer de que mais do que um pedaço de terra, Angola é uma nação. Uma grande e indiscritível nação que carrega em seus braços milhares de filhos biológicos e adoptivos, negros, brancos, mulatos, de norte a sul, de este a oeste, cabinda ao cunene, um a um, de variadas etnias e tradições. Sem tirar nem pôr, todos filhos de uma mesma Angola. E como uma verdadeira mãe ela vive alegrias e tristezas, sabores e dissabores com cada passo de seus filhos sem nunca os julgar, mesmo quando os vê explorar e enganar os seus irmãos, destruir e menosprezar os seus valores e identidade. 

Nessa enorme família de Angola, como em todas as famílias há gente de todo o tipo, carácter e coração. Cada um a sua maneira, moldando as suas vidas, seguindo diferentes caminhos, rindo ou chorando, errando ou acertando,  pelo preço de suas escolhas ou simplesmente pela força do destino. Filhos bons, maus, ricos ou pobres, juntos fazem o POVO e este na sua generalidade partilha de um sentimento que independentemente das diferenças, nos une. O grande orgulho que sentimos todos por Angola que é maior do que nós. Aquele sentimento que mesmo escondido existe dentro de cada angolano, dentro ou fora de Angola. Aquela alegria descabida que nos inunda e move, aquela mania insistente de espantar as tristezas que nos dá o rítimo e a ginga para o Semba cantar, dá-nos a melodia e o calor para  Kizombar sem parar, dá-nos a ousadia e a intimidade para a tarrachinha inventar e dançar, dá-nos até o imediatismo e a criatividade para o Kuduro criar e impôr ao mundo. 

Mais do que tudo, Angola é uma nação abençoada sim. Mas por ter um povo aguerrido, estranhamente feliz, desenrascado e louco. Louco o suficiente para sonhar e acreditar. Acreditar na mudança. Acreditar no desenvolvimento. Acreditar que somos especiais porque talvez o sejamos. Especiais ao ponto de facilmente nos levantarmos para recomeçar, ao ponto de perdoarmos e recebermos de braços abertos aqueles que outrora nos fizeram sofrer. Especiais ao ponto de aceitarmos o novo, o estranho, o diferente. Somos acolhedores apesar de gozões. 

Digam o que disserem, aconteça o que acontecer, apesar das eventuais aldrabisses, dos esquemas, das confusões, a poeira, o calor, a micha e o suor. Mesmo com todos esses mambos malaikes  a banda cuia bué e aqui todo mundo é irmão... 

sábado, 18 de janeiro de 2014

Amar com a cabeça...


Muitas vezes dei por mim a desejar que houvesse um remédio contra  amor. Essa coisa estranha que nos entra porta à dentro, vasculha, mexe, desarruma, faz mudanças, grita, fala alto, sem dar cavaco a ninguém. Nem se quer pergunta a nossa opinião, não temos tempo de pensar ou forças para o deter.

Como é que pode essa coisa inquietante que nos alegra e entristece com uma alternância veloz ser tão forte e tornarnos tão alheios a nós mesmos?
 Como é que é possível esse ditador louco que nos rouba a liberdade, pisa em nosso ego e nos torna parasitas dependentes de outros parasitas, ter tantos adeptos???

Sim. É assim que penso no amor. 
E não nego que também o venero e deixo que me devore suavemente, deixo que me torne numa demente, vivendo num mundo paralelo onde tudo é perfeito, alimentando ilusões vãs, exigindo do mundo uma pureza sobrenatural e admito até que me faz sentir mais viva. Como uma verdadeira droga, o amor faz-me sentir estupidamente bem. Como se nada mais fosse correr mal, o sacana faz-me sentir explosões de prazer pelas coisas mais tontas e estúpídas. Quer dizer, existem  várias coisas na vida como sensações, emoções, momentos, sabores, cheiros, vontades que sem o raio do amor eram apenas coisas insignificantes tão como elas são...
Mas essa ainda não é a pior parte. Acreditem, perdermos a noção do ridículo, dizermos coisas foleiras num tom mais foleiro ainda, fazermos juras idiotas e promessas tão absurdas quanto o desejo de eternidade, não é o pior do amor. A grande chatice é quando começamos a perder a capacidade de pensar por nós mesmos e voltamos a ser o que um dia nascemos para ser, animais. Deixamos de raciocinar para seguir os nossos instintos selvagens e indomáveis. E aí é que o bicho pega!!!

Lá se vai o bendito equilíbrio. Começamos a ser dependentes e deixamos de ser pessoas agradáveis e interessantes para sermos pequenas criaturas despresíveis de tão desesperados que nos tornamos. Irritantemente carentes, obsecados, obsessivos, possessivos e tão necessitados. 
Deixamos de ser atraentes e misteriosos e passamos a ser previsíveis. Acabou-se o jogo da sedução. Fomos apanhados por um predador maior e agora viramos papinha do bicho.
Então?
O que fazer para manter a sanidade e um pouco de dignidade nessa altura? Fugimos e deixamos o orgulho nos cegar a sensatez e ofuscar a nossa maturidade? Ou passamos ao estado de aceitação e calmamente nos entregamos ao papão?

- Talvez o melhor fosse calar o caração. - Diriam muitos. 
Se isso fosse fácil ou até possível na íntegra talvez fosse uma solução mas não sei se teria alguma piada...

Afinal, se pensarmos bem, o único problema do amor é quando perdemos a cabeça. Mas será que é possível amar com a cabeça? Se formos capazes de ponderar antes de agir, analisar antes de falar, avaliar antes de fechar os olhos e caminhar pelos passos de outra pessoa, ainda assim podiamos chamar a essa coisa amor? 

Será que para amar temos mesmo de sofrer, depender, implorar? Será que no amor não pode haver controlo? Nem sobre nós mesmos?  Tem de ser tudo ou nada? Oito ou oitenta? 

Talvez a grande exaltação do amor seja exactamente aquela se que alcança depois da tempestade. Quando conseguimos controlar os nossos instintos, confiar, abdicar, deixar fluir, libertar e respirar.
Talvez aquele furacão que nos vira a cabeça, põe-nos o sangue a ferver e cada uma das células do nosso corpo a gritar por atenção seja  aquilo que chamamos paixão, desejo, atracção... 

E tudo isso importa, tudo isso faz parte do amor mas não basta. É frágil demais, escorregadio demais, é tão bom que até doi mas nós queremos sempre mais e mais, não conseguimos parar, atropelamos o tempo, ultrapassamos barreiras, rompemos convenções como rebeldes parvos. Porém as vezes chegamos tão longe, tão no limite que sem nos apercebermos ficamos por um fio e nem nós reconhecemos o nosso próprio reflexo. Perdemo-nos...

Amar é fácil e quando somos correspondidos maravilhoso. Descobrimos grande sentido na vida e criamos a nossa definição de felicidade. Mas se não cuidarmos do amor, se não amadurecermos o amor, se não o tornarmos sólido e estável, com generosas doses de paciência, amizade, cumplicidade e reciprocidade, coração e cabeça, não o conseguimos manter, não o conseguimos prender. 

Tal como eu disse anteriormente, o amor tem vontade própria e pouco lhe importa a nossa opinião...


18-01-2014
Mira clock.