sábado, 18 de janeiro de 2014

Amar com a cabeça...


Muitas vezes dei por mim a desejar que houvesse um remédio contra  amor. Essa coisa estranha que nos entra porta à dentro, vasculha, mexe, desarruma, faz mudanças, grita, fala alto, sem dar cavaco a ninguém. Nem se quer pergunta a nossa opinião, não temos tempo de pensar ou forças para o deter.

Como é que pode essa coisa inquietante que nos alegra e entristece com uma alternância veloz ser tão forte e tornarnos tão alheios a nós mesmos?
 Como é que é possível esse ditador louco que nos rouba a liberdade, pisa em nosso ego e nos torna parasitas dependentes de outros parasitas, ter tantos adeptos???

Sim. É assim que penso no amor. 
E não nego que também o venero e deixo que me devore suavemente, deixo que me torne numa demente, vivendo num mundo paralelo onde tudo é perfeito, alimentando ilusões vãs, exigindo do mundo uma pureza sobrenatural e admito até que me faz sentir mais viva. Como uma verdadeira droga, o amor faz-me sentir estupidamente bem. Como se nada mais fosse correr mal, o sacana faz-me sentir explosões de prazer pelas coisas mais tontas e estúpídas. Quer dizer, existem  várias coisas na vida como sensações, emoções, momentos, sabores, cheiros, vontades que sem o raio do amor eram apenas coisas insignificantes tão como elas são...
Mas essa ainda não é a pior parte. Acreditem, perdermos a noção do ridículo, dizermos coisas foleiras num tom mais foleiro ainda, fazermos juras idiotas e promessas tão absurdas quanto o desejo de eternidade, não é o pior do amor. A grande chatice é quando começamos a perder a capacidade de pensar por nós mesmos e voltamos a ser o que um dia nascemos para ser, animais. Deixamos de raciocinar para seguir os nossos instintos selvagens e indomáveis. E aí é que o bicho pega!!!

Lá se vai o bendito equilíbrio. Começamos a ser dependentes e deixamos de ser pessoas agradáveis e interessantes para sermos pequenas criaturas despresíveis de tão desesperados que nos tornamos. Irritantemente carentes, obsecados, obsessivos, possessivos e tão necessitados. 
Deixamos de ser atraentes e misteriosos e passamos a ser previsíveis. Acabou-se o jogo da sedução. Fomos apanhados por um predador maior e agora viramos papinha do bicho.
Então?
O que fazer para manter a sanidade e um pouco de dignidade nessa altura? Fugimos e deixamos o orgulho nos cegar a sensatez e ofuscar a nossa maturidade? Ou passamos ao estado de aceitação e calmamente nos entregamos ao papão?

- Talvez o melhor fosse calar o caração. - Diriam muitos. 
Se isso fosse fácil ou até possível na íntegra talvez fosse uma solução mas não sei se teria alguma piada...

Afinal, se pensarmos bem, o único problema do amor é quando perdemos a cabeça. Mas será que é possível amar com a cabeça? Se formos capazes de ponderar antes de agir, analisar antes de falar, avaliar antes de fechar os olhos e caminhar pelos passos de outra pessoa, ainda assim podiamos chamar a essa coisa amor? 

Será que para amar temos mesmo de sofrer, depender, implorar? Será que no amor não pode haver controlo? Nem sobre nós mesmos?  Tem de ser tudo ou nada? Oito ou oitenta? 

Talvez a grande exaltação do amor seja exactamente aquela se que alcança depois da tempestade. Quando conseguimos controlar os nossos instintos, confiar, abdicar, deixar fluir, libertar e respirar.
Talvez aquele furacão que nos vira a cabeça, põe-nos o sangue a ferver e cada uma das células do nosso corpo a gritar por atenção seja  aquilo que chamamos paixão, desejo, atracção... 

E tudo isso importa, tudo isso faz parte do amor mas não basta. É frágil demais, escorregadio demais, é tão bom que até doi mas nós queremos sempre mais e mais, não conseguimos parar, atropelamos o tempo, ultrapassamos barreiras, rompemos convenções como rebeldes parvos. Porém as vezes chegamos tão longe, tão no limite que sem nos apercebermos ficamos por um fio e nem nós reconhecemos o nosso próprio reflexo. Perdemo-nos...

Amar é fácil e quando somos correspondidos maravilhoso. Descobrimos grande sentido na vida e criamos a nossa definição de felicidade. Mas se não cuidarmos do amor, se não amadurecermos o amor, se não o tornarmos sólido e estável, com generosas doses de paciência, amizade, cumplicidade e reciprocidade, coração e cabeça, não o conseguimos manter, não o conseguimos prender. 

Tal como eu disse anteriormente, o amor tem vontade própria e pouco lhe importa a nossa opinião...


18-01-2014
Mira clock. 

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