terça-feira, 27 de março de 2012

Desalento





Aqui estou amiga

No âmago da solidão

Marcada por uma desventura desmedida



No estrondoso silêncio da madrugada

Apenas oiço o gotejar das lágrimas 

E os soluços contidos

De um pranto que tende ser infinito



Meu desalento é tão profundo

Que já nem me é permitido sonhar

Só posso ver a dura e cruel realidade

Estampada em meu pensar



E a verdade confronta o meu olhar

Com tamanha frieza

Oferece-me o desalento

De um adeus forçado



E os dias parecem anos na terra dos solitários 

Aonde reconheço o profundo do meu choro

E a escadaria frustrada do recomeçar



Amiga! Nunca caí tão fundo

Estou a margem da felicidade

Além dos sorrisos



Numa ausência insuportável

Em minha desagradável presença …










sábado, 24 de março de 2012

"Desabrochar" Brevemente

Pessoal brevemente será lançado o meu livro, conto com vocês, beijos!

Amiga

Á Florbela Espanca



Quero ser tua amiga, amor

Quero ser aquela que ouve os teus lamentos

E abranda os teus tormentos



Quero ser o calor das tuas noites frias

O teu porto seguro contra todas as tempestades

Porque nada mais me é permitido ser

Quero ser só tua amiga



Quero testemunhar cada tristeza, cada alegria

Quero acalentar as tuas mágoas no meu colo de amiga



Olha para mim, amor

Olha bem, que no fundo dos meus olhos

Tenho guardados todos os beijos que a tua boca jamais conhecerá



Pega em minhas mãos

Aperta-as bem, com firmeza

Que nelas escondo todas as carícias que não te posso dar



Sê meu amigo, amor

Deixa-me degustar da tua presença

Enquanto viajo em meus pensamentos de dor



Faz-me contente com o teu sorriso meigo de amigo

Deixa-me estender-te os meus braços num abraço



Fala comigo, amor, que o teu silêncio magoa

Conta-me os teus medos e anseios



Fala comigo devagarinho

Deixa-me ouvir a tua voz doce

E senti-la penetrar em meus ouvidos suavemente



Sê meu confidente amor

Deixa-me ter-te do meu lado ainda que por vagos instantes

E alimentar a minha paixão incompreendida



Deixa-me ser tua amiga, amor

E matar as saudades de todos os momentos que não vivemos



Quero ser tua amiga, amor

Por mais que me custe

Quero ser a melhor das amigas

Aquela que só pelo teu amor existe


segunda-feira, 12 de março de 2012

“Perdão versus Vingança”

Num encontro casual de domingo em casa do coração, a Vingança no seu ser provocador e impiedoso dirige-se para perto do senhor Perdão, um velho muito calmo e sereno que se encontrava encostado a parede, com os olhos tépidos e os ombros baixos, passando despercebido no meio de toda aquela gente, e começa a falar “ Eu sou melhor do que tu, sou mais nova, mais bonita, mais interessante e atraente, conquisto-os facilmente, e tu? Quem és tu ao pé de mim, ninguém sequer olha para ti, és pesado e lento demais, ninguém te quer carregar as costas, demoras muito a satisfaze-los quando estão cobertos de raiva, ira ou mágoa. Alguns até enaltecem-te nas conversas, dizem que estarão sempre contigo, mas quando o ódio os atinge, esquecem-se de ti, estás obsoleto, não tens razão de ser!”

O velho perdão ainda com os olhos virados para o chão, e o rosto inexpressivo, disse apenas: -“Estás perdoada”. A vingança por sua vez, sentindo-se ignorada, elevou a voz implorando por atenção, dizendo: - Pensas que és superior a mim? Seu velho cansado, eu sou a mais desejada, dou-lhes emoção e acalmo as suas angústias rapidamente enquanto tu passas a vida a falar e nada fazes, ninguém te dá ouvidos velha guarda, quem te manda desafiar o ego deles, contrariando a sua natureza, bem-feito, por isso é que caíste no desuso, e ainda queres dar uma de experiente e sensato, admite que estás acabado velharaco, o coração só te convidou a vir a esse encontro por pena ou sei lá, eu sou a convidada de honra, até me receberam com honras de rainha, o teu tempo passou, devias estar a descansar num canto qualquer não achas?

Ainda calmo na sua postura ávida e serena, o senhor Perdão, ergueu a cabeça, e disse olhando nos olhos da vingança: -Vai com calma minha querida, ainda és muito jovem e nada sabes sobre essa vida, eles usam-te agora porque têm pressa e deixam-se consumir pelo ódio, mas no fim, só eu consigo acalmar as suas almas, só eu os posso dar sossego, tanto aos que erraram e estão carregados de culpa como aos que sofreram e estão cegos de mágoa.

Apenas eu tenho plenitude suficiente para os trazer de volta a paz, o que tu fazes é superficial e insuficiente, só os deixas mais confusos e baralhados, tornam-se frios e as vezes até malvados, tu não prestas e és calculista mas és fraca diante de mim, posso ser velho e cansado mas sou poderoso, ninguém os pode confortar como eu, posso ser difícil e pesado, mas sou pleno e compacto, sem mim o mundo seria o caus e o coração seria pedra dura e oca, tão seca e oca que chegaria a ser vulnerável por isso não te enganes, eu estou aqui porque “ eu tenho pena desse pobre coração”.

Não me preocupo em responder as tuas provocações ou a outras porque são baixas, não me atingem, tenho maturidade e bom senso suficientes para saber a hora certa de mostrar o meu valor, por isso podes continuar a exibir-te, eu na minha modesta e quase invisível presença, serei sempre superior a ti.


"A cara do preconceito"


Chamo-me preconceito, tenho milhares de anos, na verdade já nem me lembro de quantos, existo desde sempre, já tive várias caras, formas e feitios, sabem como é, vou inovando a cada dia que passa, mas nunca sucumbi, estive sempre em alta, firme e forte, terrível e vivinho da silva. Alguns até tentaram camuflar-me, tanto que já tive inúmeras mascarás, uns evitam falar de mim, outros fingem não me ver, mas todos têm um pedaço de mim, por mais minúsculo que seja, todos o têm. Eu sou o maior dos defeitos, o mais asqueroso e desprezível, alguns são aparentemente mais feios, outros mais barulhentos ou mal cheirosos do que eu mas Eu sou o Rei!

Quanto mais ignoram a minha presença mais eu me fortaleço, sou imbatível porque tornaram-me invisível, uns preservam-me por vingança, outros exibem-me para atacar ou se defender, enfim as desculpas nunca mais acabam, mas o facto é que o meu império não para de crescer.

Já tentaram atribuir-me cor, sexo, altura, estatura, raça, religião, mas enganaram-se todos, pois eu sou não personalizado, sou incolor, universal, sem estrutura definida e rezo para todos os deuses, ou seja, não sou preconceituoso como vocês, penetro-me em todas as mentes, sem excepção de nenhuma, HÁ HÁ HÁ! Eu sou demais!

Mas não sou solitário, tenho família como toda a gente, ajo sempre acompanhado com os meus irmãos e fiéis súbditos como a querida hipocrisia, linda e matreira, essa nunca falha, a menina inveja sempre tão malandra, o meu grandiosíssimo rancor, forte e sagaz, a mais velha ganância sempre tão elegante e sabichona, e muitos mais, tenho uma família enorme e muito unida.

Nada poderá deter-me enquanto houver vida em vossos corpos, vocês alimentam-me, protegem-me, engrandecem-me, sou muito grato, não vos posso abandonar como fez a pobre da igualdade, coitada não foi capaz de salvar o seu reino, hoje vive aí aos tropeções perdida em corações ingénuos e utópicos, sem estabilidade nem futuro, eu não desistirei, não se preocupem, estarei sempre com vocês, meus caros seguidores, mesmo quando com falsas promessas tentarem sufocar-me, estarei sempre onde sempre estive. Dentro de vocês!


sexta-feira, 9 de março de 2012

Mias um trechinho do meu conto "Cartas a um ex amor"




Escrevo para ti numa manhã amena e preguiçosa, pobre de emoção, calada, vazia…

Em que dou por mim deitada na cama, com o meu pijama de bolinhas vestido, despenteada e com preguiça de viver. De repente senti-me pequena e abandonada.



Estou farta de estar aqui sozinha!



Nunca imaginei que fosse tão difícil dar a volta por cima! Sempre que ouvisse alguém queixar-se da dor de ter sido magoado achava que era drama e que se fosse comigo depressa dava um jeito de contornar a situação. Estava redondamente equivocada, para mim era fácil dizer aquilo enquanto estava na minha zona de conforto a observar de fora, pois agora que sou eu a iludida não consigo contornar nada.



E digo-te uma coisa amor, a vida as vezes é irónica e debochada, sabes, parece que dificulta mais as coisas, como diria o outro, a vida é uma cena lixada!

Faz hoje 4 meses desde que me tornei, embora contra minha vontade, oficialmente solteira e desde então não vejo um único homem bonito na rua. Nunca mais tive a felicidade de conhecer um rapaz bom e charmoso, eventualmente solteiro, detentor de um lindo sorriso ou de um olhar irresistível e arrebatador. Nada! Nada!

Sinto falta de uma boa conversa, de um bom galanteio, daqueles de tirar o fôlego e cair para trás, deves imaginar. Ou não, porque de facto não tinhas todas essas qualidades, na verdade não foste grande coisa ao me tentar cortejar. Não és muito galanteador! Mas nem precisaste ser, pois eu fiquei apanhadinha por ti desde o primeiro momento em que te vi na cantina encostado ao balcão com aquela polo t-shirt cor de laranja que caía muito bem com aquelas bermudas pretas (diga-se de passagem) o que realçava bem o teu tom de pele castanho chocolate, nem precisaste emitir uma única palavra. Naquele momento eu já era tua!

Era o meu primeiro ano na faculdade e o teu terceiro, eu era caloira e por isso tu mal reparavas em mim até o dia em que os nossos olhares se cruzaram no baile de boas-vindas aos caloiros de 2008 e percebi que também serias meu…



Continuando, acho que as coisas hoje em dia estão tão fáceis para os homens que eles já nem se esforçam para conquistar uma mulher, a oferta tornou-se abundante demais, algumas mulheres caíram em desespero de tal forma que eles acham que já não precisam de mover um único dedo. Credo!



E os poucos que tentam, são insuficientes, eu diria até infelizes nas suas investidas, coitados. São uns mal-amados como eu, que também estão a procura de um lugar à sombra e ao em vez de me tentarem conquistar, apelam, imploram, enfim não é bonito de se ver. 



Mas para a tua boa informação, não estou a matar cachorro a grito “ sou uma mulher linda, prendada, madura, inteligente, com uma grande personalidade, não me deixo abater por tão pouco”. Pelo menos é o que digo para mim mesma quando me olho no espelho.





E de qualquer forma não vou estar aqui a lamentar os meus azeites contigo! Livra-me Deus! Aliás para todos os efeitos eu estou muito bem e feliz. Antes só do que mal acompanhada! Não preciso de homem nenhum para me fazer sorrir ou para dar crédito a aquela teoria mal fundamentada que me acompanha todos os dias quando me preparo, sempre fui vaidosa e de uns tempos para cá passei a maquiar-me mais vezes, já uso saltos com frequência, vou ao cabeleireiro e faço as unhas, eu sei que irias gostar de ver, afinal eras tu que dizias que eu devia ser mais feminina e tal, pena que já nem reparas em mim, evitas a todo o custo respirar o mesmo ar que eu, só não te digo que já te perdoei e me aproximo porque não consigo e porque até é divertido saber que foges de mim como quem foge a forca, confesso! Porque assim sempre posso continuar a ser tua panca que tu nem vais perceber…



Como naquele dia em que te vi no pátio, ao pé daquela estátua de pedra, a conversar num grupo de alunos do curso de Gestão Empresarial. Estavas tão lindo! Tinhas o cabelo molhado e os teus caracóis brilhavam por causa da luz do sol e do gel que devias estar a usar, fiquei a olhar para ti durante meia hora. Agora que penso nisso acho que sabias que eu estava sentada no banco mesmo a tua frente porque em momento algum olhaste para a minha direcção o que fez com que eu pudesse namorar-te com os olhos durante algum tempo. Sem dar nas vistas é claro, para evitar a todo custo que o resto da malta percebesse.