segunda-feira, 12 de março de 2012

“Perdão versus Vingança”

Num encontro casual de domingo em casa do coração, a Vingança no seu ser provocador e impiedoso dirige-se para perto do senhor Perdão, um velho muito calmo e sereno que se encontrava encostado a parede, com os olhos tépidos e os ombros baixos, passando despercebido no meio de toda aquela gente, e começa a falar “ Eu sou melhor do que tu, sou mais nova, mais bonita, mais interessante e atraente, conquisto-os facilmente, e tu? Quem és tu ao pé de mim, ninguém sequer olha para ti, és pesado e lento demais, ninguém te quer carregar as costas, demoras muito a satisfaze-los quando estão cobertos de raiva, ira ou mágoa. Alguns até enaltecem-te nas conversas, dizem que estarão sempre contigo, mas quando o ódio os atinge, esquecem-se de ti, estás obsoleto, não tens razão de ser!”

O velho perdão ainda com os olhos virados para o chão, e o rosto inexpressivo, disse apenas: -“Estás perdoada”. A vingança por sua vez, sentindo-se ignorada, elevou a voz implorando por atenção, dizendo: - Pensas que és superior a mim? Seu velho cansado, eu sou a mais desejada, dou-lhes emoção e acalmo as suas angústias rapidamente enquanto tu passas a vida a falar e nada fazes, ninguém te dá ouvidos velha guarda, quem te manda desafiar o ego deles, contrariando a sua natureza, bem-feito, por isso é que caíste no desuso, e ainda queres dar uma de experiente e sensato, admite que estás acabado velharaco, o coração só te convidou a vir a esse encontro por pena ou sei lá, eu sou a convidada de honra, até me receberam com honras de rainha, o teu tempo passou, devias estar a descansar num canto qualquer não achas?

Ainda calmo na sua postura ávida e serena, o senhor Perdão, ergueu a cabeça, e disse olhando nos olhos da vingança: -Vai com calma minha querida, ainda és muito jovem e nada sabes sobre essa vida, eles usam-te agora porque têm pressa e deixam-se consumir pelo ódio, mas no fim, só eu consigo acalmar as suas almas, só eu os posso dar sossego, tanto aos que erraram e estão carregados de culpa como aos que sofreram e estão cegos de mágoa.

Apenas eu tenho plenitude suficiente para os trazer de volta a paz, o que tu fazes é superficial e insuficiente, só os deixas mais confusos e baralhados, tornam-se frios e as vezes até malvados, tu não prestas e és calculista mas és fraca diante de mim, posso ser velho e cansado mas sou poderoso, ninguém os pode confortar como eu, posso ser difícil e pesado, mas sou pleno e compacto, sem mim o mundo seria o caus e o coração seria pedra dura e oca, tão seca e oca que chegaria a ser vulnerável por isso não te enganes, eu estou aqui porque “ eu tenho pena desse pobre coração”.

Não me preocupo em responder as tuas provocações ou a outras porque são baixas, não me atingem, tenho maturidade e bom senso suficientes para saber a hora certa de mostrar o meu valor, por isso podes continuar a exibir-te, eu na minha modesta e quase invisível presença, serei sempre superior a ti.


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