segunda-feira, 4 de março de 2013

Trecho do meu novo menino (livro) "Um Verdadeiro milagre de amor", espero que gostem... Beijinhos


Outra vez sentado no sofá, passando o milésimo serão sozinho, olhando para o abstracto, em completo silêncio, lá estava Rafael em seu mundo seguro e fadistioso. Seria aquela uma noite normal como as outras, estariam os seus pensamentos a gozar da mesma calmaria que o seu corpo? Estaria ele em paz com os seus instintos? Nada o denunciou durante a primeira hora que ali esteve. Porém quando menos esperava, como se tivesse sido possuído por alguma força superior, levantou-se e pegou na lista telefónica, desesperado por encontrar o número de telefone de uma certa moradora da cidade de Luanda. Contudo após longos trinta minutos de busca pelas páginas douradas não obteve grande sucesso e desistiu, achando ridícula e de certo modo desesperadora a sua atitude.

Determinado a esquecer aquele assunto, ligou a televisão e procurou imediatamente por uma distração. Vagueiou lentamente por toda a grelha de cais televisivos mas nenhum o deteve, tudo lhe parecia ser pouco cativante ou interessante, estava inquieto e sabia bem o porquê. Não a conseguia tirar da cabeça, por mais que tentasse continuava a vê-la nitidamente em seus pensamentos e achava-se aflito por esse motivo. Nunca havia sentido nada parecido, por mulher nunhuma. Não estava habituado a sensação e não suportava o facto de não a poder controlar.

Quando menos esperava, levantou-se abruptamente, caminhando até a porta, desejando sentir-se melhor fora de casa, como se aquela situação não o pudesse acompanhar até a rua. Percorreu por vários quarteirões a pé, procurando inconscientemente por traços dela em todos os rostos que encontrou. Mesmo nos mais incompatíveis e menos semelhantes. Passado algum tempo, deu por si, sentado outra vez, mas desta vez num banco de pedra na Marginal de Luanda, ignorando a exuberância das luzes da Baía reflectidas sobre o mar, o brilho mágico da lua e o encanto das estrelas para se concentrar no vazio, de cara voltada para o chão, com as mãos nas bochechas, sustentando o peso de sua cabeça. Anseiava desesperadamente por alguma resposta mas quanto mais pensasse sobre o assunto mais encurralado se sentia.

Era Sexta-feira e sabia que só voltaria a falar com ela na terça-feira que era o dia em que se previa que o reparo do carro ficasse pronto. Normalmente era a recepccionista a informar aos proprietários para que fossem levantar os veículos a determinada oficina mas desta vez queria ser ele a fazé-lo, pois receiava que aquela fosse a última vez que teria oportunidade. E o pior é que teria de passar o resto do fim-de-semana naquela angústia. Manteve-se ali parado durante cerca de uma hora e depois sem se que lhe restassem mais alternativas regressou a casa, refugiou-se num banho quente e depois de quase duas horas debatendo-se em dúvidas e contradições, finalmente conseguiu adormecer.

Na manhã seguinte levantou-se um pouco mais tarde do que era costume mas ainda assim, para seu espanto, soube-lhe a pouco e desejava ter ficado mais tempo na cama. Porém era dia de compras e apesar de um pouco desorientado estava consciente de que precisava ir. Após ter esfregado os olhos e esticado os braços, fez subir as perceanas do quarto para que os raios de sol iluminassem e aquecessem. De seguida calçou uns chinelos de borracha, deambulou até a casa de banho para escovar os dentes, fazer a barba e tomar rapidamente um duche. Após se ter vestido casualmente, colocando a primeira t-shirt que encontrara na cómoda conjulgando com as suas favoritas bermudas brancas, calçou umas sandálias de cabedal e dirigiu-se a cozinha lentamente, arrastando os pés, desejando loucamente beber uma chávena de café forte com leite e canela e comer ovos mechidos com queijo e torradas.

Faltando pouco para as onze horas da manhã já estava ele a caminho do super mercado, calmo e ilusoriamente animado pois aparentemente não teria tempo para pensar nela visto que teria um dia agitado. Portanto, mal podia ele prever o tamanho da agitação que o resto do dia o reservava...

 

2 comentários:

  1. Gostei do trecho. pelos vistos é uma narrativa.deves ter cuidado com a intervenção do narrador na história. boa escrita

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  2. Olá obrigada! Prometo levar isso em conta! Bem visto! Beijos!

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