quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Mais um trechinho de " Cartas a um Ex amor", espero que gostem, beijos!


Nem acredito que o fizeste! Meu Deus! Como é que pudeste ser tão covarde? Agora muita coisa se encaixa. É tudo claro como água, foi por isso que terminaste tudo daquela forma, estavas encurralado na tua teia de mentira e traição. Ao menos podias ter sido homem para dizer na minha cara o que realmente se passava, não te passou pela cabeça que eu saberia de qualquer forma, que essa verdade era demasiadamente redonda e vistosa para ma conseguires ocultar?

Agora percebo os olhares carregados de pena das pessoas sobre mim, na universidade e em todos os outros lugares que frequentávamos, a forma como disfarçavam ou paravam de falar de repente quando as ouvisse murmurar sobre nós, imagino que já todos sabiam, o porteiro, as senhoras da cantina, o contino, todo mundo menos eu, a burra foi a última pessoa a saber.

Por isso é que a tua presença na universidade tem sido cada vez menos frequente e outro dia ouvi alguém comentar que ias mudar de turno e até fiquei intrigada por já estarmos no meio do ano. Mas achei que apenas fosse mais um disparate que podias estar só a fugir de mim e tentei não ligar. Porém depois ouvi de raspão quando ia a passar pelo pátio, os teus amigos a conversarem sobre estares a trabalhar com o teu pai. Afinal não foi apenas para teres contacto com os negócios da família de perto, foste obrigado a faze-lo.



Hoje de manhã quando eu ia a sair da casa de banho no intervalo de 15 minutos, depois da aula de literatura, vi algumas das tuas colegas a conversarem com a Ângela no corredor encostadas a parede da nossa sala e quando me aproximei elas pararam subitamente de falar e não me conseguindo encarar, atrapalhadamente despediram-se e num ápice já tinham desaparecido do meu alcance visual. Intrigada perguntei a Ângela o que se tinha sucedido mas antes que ela me pudesse responder terminou o intervalo e tivemos de entrar.

Quando saímos da aula ela chamou-me num canto e disse: - Preciso que fiques calma, o assunto é sobre o Tiago, mas vais ter que confiar em mim e esperar até o fim das aulas, por favor, acalma-te e espera.

Durante as duas horas de aulas que ainda faltavam, não consegui pensar noutra coisa, não ouvi nada do que os professores de linguística e de história disseram ao longo das aulas eu sabia que se tratava de algo importante pela forma como a Ângela olhava para mim enquanto fazia-me prometer que esperava.

Ainda assim, no fim das aulas ela pediu-me que fossemos até a casa dela e apesar de eu já estar com o cabelo em pé de tão ansiosa ela conseguiu convencer-me e fomos até lá. Quando chegamos, no quarto dela com a porta fechada, ela pediu-me para sentar, agarrou as minhas mãos e começou a falar: - Raquel, tu sabes que sou uma péssima pessoa para suavizar as coisas, não sabes? E eu com os olhos arregalados e me preparando para o que ela diria a seguir, consenti baixando a cabeça.

- Precisas ser forte porque o que vou dizer não será fácil de digerir, mas sei que vais superar mais esta.

- Anda Ângela diz logo, que já estou prestes a ter um colapso! Disse eu exaltada.

- A Marisa está grávida! Disse ela rapidamente para não gaguejar.

Mas eu, ainda inocente sem perceber nada, perguntei de que Marisa se tratava e ela disse sem olhar nos meus olhos:

-A nova namorada do Tiago!

E eu esforçando-me para mostrar indiferença, engoli a seco, franzi a testa e perguntei o que é que aquilo tinha a ver comigo mas pela expressão que pairava no rosto da Ângela percebi que não era apenas aquilo e perguntei o que é que ela ainda não me tinha contado, quando ela me respondeu que faltava pouco para a tua namorada dar a luz, que provavelmente teria oito ou nove meses de gestação, que tu estavas a trabalhar para sustentar a vossa criança e que provavelmente iriam viver juntos e casar nos próximos meses, pois ela teve que desistir da Universidade e os pais puseram-lhe no olho da rua, fiquei devastada, era muita informação para processar! De repente perdi o equilíbrio, tudo ficou escuro a minha volta, senti uma pontada no peito, como se me tivessem tirado o ar e até pensei que fosse desmaiar mas a Ângela depressa abraçou-me apercebendo-se da minha condição e sem dizer nada apenas ouviu-me chorar e lamentar.



Sabes, o que mais me doí não é o facto de existir a possibilidade de te casares, e que não tarda nada serás pai de um filho que não é meu, mas sim a forma horrível que como descobri a tua traição, não sei exactamente a quanto tempo mas sei que se ela já estava grávida a oito ou nove meses atrás e nós só estamos separados a seis meses é porque vocês ficaram juntos enquanto ainda namorávamos e tu sempre soubeste que não tolero traição mas tolero menos ainda falta de consideração e falsidade. Como é que pudeste ser tão frio e estar comigo enquanto já tinhas engravidado uma outra? Como é que me pudeste trair de tal forma depois de dois anos de namoro em que fomos perfeitos um para o outro?

Não tinhas esse direito! Humilhar-me durante esse tempo todo, permitir que todos fizessem troça de mim, eu devo ser a anedota predilecta dos teus amigos!

Porquê que não me contaste? Aliás porquê que o fizeste?

Erámos tão amigos! O que aconteceu contigo?

O que foi que te faltou? O que foi que te fiz para merecer isso? Tu tinhas o meu coração em tuas mãos e sem dó o partiste!

Gostava que me pudesses responder a isso olhando nos meus olhos mas se não foste capaz de o fazer antes, só mereces o meu desprezo, não vou facilitar as coisas para ti correndo atrás de uma explicação, gritando, chorando, não, essa não sou eu e tu sabes disso. Vou deixar-te com esse peso para o resto dos teus dias se for necessário, para todos os efeitos eu não sei de nada, porque nunca mo disseste.

Espero que sejas ao menos bom pai para aquela criança que não tem culpa da vossa irresponsabilidade e que cuides daquela coitada a quem a juventude desgraçaste que agora será tua mulher, respeita-a como não me respeitaste a mim.

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